15 dezembro 2010

A Palavra é algo essencial.

Toda a palavra verbalizada, por mais inconsciente que seja, possui uma intenção, um valor! Acho que é a palavra inconsciente que transmite a realidade que vive dentro da mente, do corpo de cada indivíduo.
É por ter esta enorme importância que se torna complicado a verbalização de determinadas palavras, a transmissão de ideias. Pensar que ela faz com que o outro crie uma imagem, uma ideia de nós assusta! Por muito que ela seja pensada, existe uma enorme hipótese de que a ideia que nós queríamos passar não aconteça, existe uma hipótese de a mensagem pretendida não chegar ao destinatário totalmente. Esta ideia de totalmente é mais fácil de ser entendida se, se tiver na ideia que existe sempre um emissor e um destinatário no processo comunicativo, bem como uma mensagem que é transmitida. Fisicamente, se assim se pode dizer, a mensagem pode ser recebida, ou seja, qualquer indivíduo consegue decifrar as realizações orais que ouve, mas, a importância maior da mensagem reside no simples facto da interpretação ser ou não bem realizada. Como se sabe, uma mensagem possui uma vertente pragmática, uma vertente que depende do contexto e da intenção, também, do destinatário. Logo, existe uma enorme probabilidade da intenção do emissor ao transmitir a mensagem não ser a mesma intenção do destinatário ao desvendar.
É toda esta confusão que me impossibilita, na maioria das vezes, de usar a palavra. Esta ideia da criação de ideias a partir de palavras, esta ideia de má interpretação faz com que nunca seja possível realizar uma mensagem que na totalidade esteja de acordo com o que queria transmitir.
É engraçado esta parte consciente e inconsciente da palavra. Constantemente no meu pensamento, digamos, naquele local onde ninguém por muito bom observador que seja consegue penetrar, as palavras aparecem num processo rápido quase se atropelando umas às outras, e me levam para locais e ideias, na maioria das vezes, impensáveis.
Quando se está nesses locais, bem longe da realidade que nos rodeia e alguém nos chama, apetece, por vezes, ou ficar chateada com as pessoas, ou explicar aquilo que segundo antes foi vivido, ou, neste caso algo difícil, levar esse alguém nessa viagem louca e atribulante para o mundo do possível, para o mundo da liberdade. Sim, nesses locais, mesmo que angustiantes, existe a liberdade, o sentido de capacidade de poder divagar em todos os locais, de poder fazer tudo e dizer tudo porque não existirá ninguém que pensará coisas erradas.
Neste momento, é urgente um local desses!

E todo este texto remota para Álvaro Magalhães e o seu poema “O limpa-palavras” que se encontra no livro de poesia juvenil O limpa-palavras e outros poemas, nomeadamente a parte que diz:
“Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
A palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
Enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.”

Si